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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Superstições: feitiços, pactos e amuletos

Para inaugurarmos nosso blog, que tem como principal objetivo conscientizar as pessoas sobre o que realmente é o Espiritismo Kardecista verdadeiro, selecionamos uma matéria do jornalista Christiano Torchi, onde o mesmo nos brinda com um texto riquíssimo sobre o universo das superstições. O que é mito ou verdade nesse tema? Esperamos que todos possam compreender e os convidamos a participarem deixando seus comentários e nos enviando suas dúvidas, que serão respondidas com satisfação. Boa leitura.

"Em parte, o preconceito e o mau juízo que se tem dos fenômenos mediúnicos repousam na ignorância das leis que regem o mundo espiritual. Por outro lado, há pessoas que, por desconhecerem essas leis, adotam um comportamento supersticioso ante as coisas espirituais. De acordo com os dicionaristas, a superstição é o “sentimento religioso que se funda no temor ou na ignorância e que leva ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em coisas ineficazes”.1

Geralmente, teme-se o desconhecido. Quando, porém, se estuda o Espiritismo, com seriedade, deixa-se de agir supersticiosamente, pois tais fenômenos estão na ordem dos fatos naturais. Não raro, médiuns, mesmo quando agem de boa-fé, algumas vezes produzindo curas, são chamados de “feiticeiros” pelos que desconhecem tais faculdades, atribuindo-as a um poder sobre-humano que absolutamente não existe: [...] A Enciclopédia Britânica esclarece que a palavra inglesa feiticeiro (witch) tem a mesma raiz semântica de wit, que, por sua vez, quer dizer: saber, conhecer. O feiticeiro é, portanto, uma pessoa que possui certo conhecimento usualmente tido por “oculto”, por não ser revelado a todos. Já em português, a palavra feiticeiro vem de feitiço, que os dicionaristas decompõem em  feito mais  iço. O  feiticeiro seria então aquele que, na linguagem popular, arranja “uma coisa feita”. É preciso lembrar que feitiço também se associa à palavra “fetiche”, que serve para nomear objeto de adoração entre os selvagens.2

  Usualmente, entende-se pacto como trato, combinação, quando dois ou mais indivíduos assumem compromissos recíprocos, verbalmente ou por escrito, como num contrato bilateral. O significado de "pacto”, retratado em O Livro dos Espíritos3, embora semelhante, guarda características próprias, visto que a palavra, neste caso, tem sentido moral, pois enfoca a conduta das pessoas que, consciente ou inconscientemente, se valem do intercâmbio espiritual para tirar vantagens de caráter material ou pessoal. Os que se entregam a esse tipo de “comércio” estão sujeitos a atrair Espíritos inferiores, podendo vir a ter sérios aborrecimentos e até a ser vítimas de mistificações e obsessões. Há, também, aqueles que fazem promessas de cunho religioso, com o objetivo de alcançar benesses, como curar uma doença, superar uma dificuldade familiar ou financeira etc. Quando os Espíritos, respondendo a Kardec, disseram que não existem os pactos, estavam se referindo à inutilidade da crença supersticiosa de alguns que esperam usufruir de supostos poderes mágicos e infalíveis, a partir do contato com Espíritos, dos quais possam se utilizar para auxiliar ou prejudicar pessoas. Pela simples intenção de praticar uma ação má, o sujeito atrai em seu auxílio Espíritos infelizes, aos quais então se submete, sujeitando-se a servi-los, eis que estes também precisam daquele para a prática do mal. Bem disse Kardec: A dependência em que o homem se acha, algumas vezes, em relação aos Espíritos inferiores, provém de sua entrega aos maus pensamentos que estes lhe sugerem, e não de quaisquer acordos feitos entre eles.O pacto, no sentido vulgar do termo, é uma alegoria que simboliza uma natureza má simpatizando com Espíritos malfazejos4.

  Por isso, quando se diz que o indivíduo “vendeu a alma a satanás”, esta frase não deve ser tomada em sua literalidade, porquanto ninguém é proprietário de ninguém.O que há, neste caso, é uma afinidade mental de um encarnado com um Espírito malfazejo, em que aquele se coloca, por amor aos gozos materiais, na dependência de um Espírito impuro, estabelecendo-se entre eles, tacitamente, um pacto que afasta o infrator do caminho do bem, mas de cuja situação poderá se livrar, com a assistência dos bons Espíritos, desde que o deseje firmemente. Os que cedem a essas inferioridades desertam dos deveres que assumiram e renunciam às provas que lhes cumpria suportar neste mundo, mas isto não quer dizer que fiquem eternamente presos a esses compromissos, uma vez que tal vinculação tende a desaparecer, com o tempo, até que paguem o preço, nesta ou nas existências futuras, com as consequências dessa leviandade, e resgatem a falta cometida, com o auxílio dos bons Espíritos, por meio de novas provas, talvez maiores e mais difíceis. As fórmulas, talismãs, amuletos e cultos materiais não têm nenhum poder mágico. Os indivíduos que os utilizam como recursos de auxílio, no propósito de prejudicar os semelhantes, adivinhar o futuro, ou qualquer outro objetivo, ou são charlatães ou são vítimas da superstição e da ignorância. Em verdade, os Espíritos são atraídos pelos pensamentos e não pelas coisas materiais, que são utilizadas como “bengalas” psicológicas para alcançar seu objetivo5.

  Os benfeitores deixam bem claro que Deus não permite que um homem faça mal ao seu próximo, com o auxílio de um mau Espírito. Algumas pessoas dispõem de grande força magnética, da qual podem fazer mau uso, se forem más, hipótese em que atraem outros Espíritos igualmente perversos, mas só atingem aqueles a quem Deus permite, em virtude de alguma prova que tenham de sofrer ou em virtude de expiação que tenham de resgatar por erros cometidos no pretérito. Muitas vezes, a pessoa é, antes de tudo, vítima de si mesma, pois “Deus não escuta uma maldição injusta, e aquele que a pronuncia é culpado aos seus olhos”6.

  O Espírito André Luiz traz um exemplo interessante, que ilustra esta assertiva: Nesse momento, renteou conosco uma entidade em deplorável aspecto. Era um homem esguio e triste, exibindo o braço direito paralítico e ressecado. [...] Acerquei-me do amigo sofredor. Toquei-lhe a fronte, de leve, e registrei-lhe a angústia.

Nas recordações que se lhe haviam cristalizado no mundo mental, senti-lhe o drama interior. Fora musculoso estivador no cais, alcoólatra inveterado que, certa feita, de volta a casa, esbofeteou a face paterna, porque o velho genitor lhe exprobrara o procedimento. Incapaz de revidar, o ancião, cuspinhando sangue, praguejou, desapiedado: – Infame! o teu braço cruel será transformado em galho seco... Maldito sejas! Ouvindo tais palavras que se fizeram seguidas por terrível jacto de força hipnotizante, o mísero tornou à via pública, sugestionado pela maldição recebida, bebericando para esquecer. Cambaleante, foi vitimado num desastre de bonde, no qual veio a perder o braço. Sobreviveu por alguns anos, coagulando, contudo, no próprio pensamento a ideia de que a expressão paternal tivera a força de uma ordem vingativa a se lhe implantar no fundo dalma e, por isso, ao desencarnar, recuperara o membro dantes mutilado a pender-lhe, ressecado e inerte, no corpo perispirítico7.

  Deus governa o Universo, com infinita sabedoria, agindo por meio de suas leis imperecíveis e de seus prepostos. Tudo acontece com a permissão divina e tem sua razão de ser, com vistas ao progresso e à felicidade das criaturas: – As chamadas atuações do plano invisível, de qualquer natureza, não se verificam à revelia de Jesus e de seus prepostos,mentores do homem na sua jornada de experiências para o conhecimento e para a luz. As perseguições de um inimigo invisível têm um limite e não afetam o seu objeto senão na pauta de sua necessidade própria, porquanto, sob os olhos amoráveis dos vossos Guias do plano superior, todos esses movimentos têm uma finalidade sagrada, como a de ensinar-vos a fortaleza moral, a tolerância, a paciência, a conformação, nos mais sagrados imperativos da fraternidade e do bem8.

  Finalizando, a superstição não consiste na crença em um fato, quando comprovado,mas na causa ilógica a ele atribuída. Quanto mais aprofundamos nos estudos espíritas, mais vamos descobrindo a razão e o porquê dos fenômenos espirituais que ocorrem, todos subordinados a leis naturais, os quais, mal compreendidos pela ignorância humana, são igualmente mal interpretados e mal explicados pelo vulgo: O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma porção de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu uma infinidade de fábulas, em que os fatos são exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma só, é o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque, ao mostrar a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de uma crença ridícula9.

Se há algo que devemos temer é a nós mesmos, quando nos entregamos à invigilância e à prática do mal, com o que estaremos nos desviando das leis divinas que nos conduzem à perfeição e à felicidade em plenitude."

BIBLIOGRAFIA

1
BORGES, A.Merci Spada. Doutrina espírita no tempo e no espaço. 800 verbetes especializados. 2. ed. São Paulo: Panorama, 2001. p. 346.

2
MARCUS, João (pseudônimo de Hermínio C.Miranda).Candeias na noite escura.4.ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2008. Apud O Espiritismo de A a Z. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Vocábulo “Feiticeiro”, p. 367.

3
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Q. 549-550.

4
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed.Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Comentário de Kardec à q. 549.

5
XAVIER, Francisco C. O consolador.Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Q. 214.

6
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed.Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Q. 557.

7
XAVIER, Francisco C. Nos domínios da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 34. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 4, p. 47-48.

8
Idem. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Q. 159.

9
KARDEC, Allan.O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Comentário de Kardec à q. 555.



Fonte: Reformador
Federação Espírita Brasileira
Ano 128 • Nº 2.170 • Janeiro 2010